O Fair Play financeiro nasceu como uma tentativa de equalizar o jogo no futebol europeu. Introduzido pela UEFA em 2011, seu objetivo principal era impedir que clubes gastassem mais do que arrecadam, evitando, assim, que o futebol se transformasse em um campo de batalhas econômicas desiguais, onde apenas os ricos pudessem competir no topo. A motivação para sua criação veio após anos de excessos financeiros, com clubes acumulando dívidas estratosféricas, apostando em grandes investimentos, na esperança de títulos que, muitas vezes, não chegavam. A UEFA queria proteger os clubes de si mesmos, garantindo uma sustentabilidade de longo prazo.
Na Europa, o Fair Play financeiro trouxe estabilidade a alguns clubes que, antes, gastavam de maneira irresponsável. O Manchester City e o Paris Saint-Germain, por exemplo, ambos apoiados por grandes injeções de capital de seus investidores, tiveram que ajustar suas finanças para se adequar às regras. Isso trouxe uma medida de controle e previsibilidade ao jogo, ainda que a regra nem sempre fosse aplicada com o rigor necessário.
Quando olhamos para o Brasil, a realidade é bem diferente. Os clubes brasileiros, em sua grande maioria, sofrem com gestões financeiras desastrosas, onde o planejamento de longo prazo muitas vezes não existe. Há uma cultura de gasto imediato, na esperança de que um título resolva todos os problemas financeiros. O resultado disso é um ciclo de dívidas crescentes, dependência de investidores ou mecenas momentâneos e a constante perda de talentos para o exterior, numa espécie de leilão pelo menor preço.
Os altos investimentos no futebol brasileiro, que se intensificaram nos últimos anos, podem parecer uma solução imediata, mas podem também ser uma bomba-relógio. Sem uma regulamentação como o Fair Play financeiro, vemos clubes gastando quantias astronômicas em salários e transferências, sem qualquer garantia de retorno sustentável. E quando falamos de futuro, esses gastos podem criar buracos difíceis de serem preenchidos.
É necessário um equilíbrio. No Brasil, poderíamos começar com uma regulamentação mais forte, que não só limite os gastos, mas também incentive o investimento em infraestrutura, categorias de base e desenvolvimento de atletas. O futebol brasileiro não pode continuar refém de ciclos de euforia seguidos de crises profundas.
O Fair Play financeiro tem seus problemas, claro. Ele não consegue, por exemplo, lidar com o desequilíbrio histórico entre clubes com tradições e receitas gigantescas e aqueles que estão tentando ascender. Na Europa, isso ainda gera um abismo entre os grandes e os pequenos. No Brasil, uma implementação rígida dessas regras poderia ajudar a evitar que o futebol continue sendo administrado com uma visão imediatista e irresponsável.
A questão é: o que queremos para o futuro do nosso futebol? Se continuarmos gastando como se não houvesse amanhã, esse amanhã pode nunca chegar.
Robert Abel